04 julho 2012

VINICIUS BRUM LANÇA CD

Vinícius Brum                                                  Foto: Emilio Pedroso
Transcrevo a seguir, matéria feita pelo jornalista Roger Lerina, publicada na capa do Segundo Caderno da ZH desta quarta-feira.

Foi no seu pensário pessoal, um sítio em Formigueiro, que Vinícius Brum começou a ruminar a ideia de transformar em música o romance Assim na Terra, do amigo e parceiro Luiz Sérgio Metz, o Jacaré (1952 – 1996).
O resultado de dois anos matutando rendeu um disco com 18 canções, que será lançado hoje, às 19h30min, em um pocket show na Livraria Cultura, na Capital.
O desafio de Vinícius tem sabor de epopeia: o livro de Jacaré editado em 1995 é um singular e inspirado misto de prosa e poesia, tão envolvente quanto inextricável, ao mesmo tempo arcaico e sofisticado. Mas, como dizia o velho Gomercindo, "cada louco e a sua Ilíada"...
A associação entre Vinícius Brum e Luiz Sérgio Metz, que em 2012 completaria 60 anos, remete ao Tambo do Bando, grupo formado em 1986 e que revolucionou o panorama da música regional gaúcha ao acrescentar à sonoridade pampiana os ecos urbanos da MPB e do rock e à temática campeira as angústias e perplexidades do homem contemporâneo – presentes nas letras escritas pelo santo-angelense Jacaré. O atual secretário adjunto da Cultura de Porto Alegre lembra que costumava ler os textos do amigo antes de sua publicação – caso da biografia do poeta Aureliano de Figueiredo Pinto. Brum também foi um primeiro leitor de Assim na Terra, novela publicada pela Artes e Ofícios e nunca reeditada:
– Jaca sempre estava rabiscando alguma coisa. Tenho até hoje coisas escritas por ele. Li a brochura de Assim na Terra. Foi quando ele trocou a máquina de escrever Lettera laranja pelo computador 386.
O livro saiu em agosto de 1995 – e Jacaré pouco tempo teve para ver a repercussão de sua obra: morreu de câncer no dia 20 de junho de 1996, aos 44 anos. O sul mítico e poético da requintada narrativa encantou desde sempre Brum – que diz ter perdido a conta de quantas vezes já leu o texto. Em 2010, em um fim de tarde durante as férias, a lembrança da passagem de Assim na Terra sobre os índios linguarás sugeriu uma canção ao compositor. Letra e música de Linguarás nasceram naturalmente – acenando a Brum que a narrativa do romance poderia virar um cancioneiro. O álbum Assim na Terra – Canções reúne 18 temas de Vinícius Brum inspirados em personagens da obra de Jacaré, como o sábio homem do campo Gomercindo, uma espécie de Blau Nunes de Simões Lopes Neto, e em imagens poéticas como a do pensário, um misterioso galpão de lembranças.
As milongas e canções do CD contam com a participação de Luiz Carlos Borges (acordeão), Texo Cabral (flauta e harmônica), Marcelo Freitas (bateria e percussão) e Tuny Brum (vocais). A direção musical é do jovem Guilherme Almeida, 24 anos, filho do cantor e compositor nativista Eraci Rocha e baixista da Pública – banda, aliás, cujo vocalista Pedro Metz é filho de Jacaré. Guilherme também tocou os violões, o baixo, as guitarras e os teclados do disco. Brum acredita que o desaparecimento de Jacaré cortou no pé um talento literário excepcional:
– Acho que ele teria cristalizado sua carreira como escritor. Ele teria dado o grande salto.
Uma verve cujo silêncio prematuro parece ter sido antecipado na dedicatória para Vinícius Brum no exemplar de Assim na Terra: "Nem há o que falar de tanto que há".

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